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12 set

Do que adoece o(a) professor(a) londrinense.

Maringá, 22 de julho. A professora Ana Elisa Belther, 51, lecionava filosofia quando, segundo nota da APP, sindicato da categoria, teve infarto fulminante em sala de aula. Nos dois dias seguintes, outros dois professores faleceram. E nos primeiros dias de agosto, outros três. Em duas semanas, total de seis educadores. Mas não pararam por aí. Ao todo, dez professores morreram no Paraná nos últimos dois meses.

Sete das mortes chamam a atenção. Foram quatro por infarto, uma em decorrência de aneurisma cerebral e outras duas por suicídio. Estresse e pressões no ambiente de trabalho podem contribuir para esse tipo de morte. Em seu site, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) informa que o estresse pode causar doenças cardiovasculares, como infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC)

Sete casos preocupantes

Em 23 de julho, dia posterior à morte de Ana Elisa Belther, em Maringá, faleceu a professora Celiana da Silva, em Londrina. Ela lecionava matemática. Sofreu infarto em casa, dois dias antes de completar 56 anos. No dia 31 do mesmo mês, Miquelina Gorzoni dava aula de história em Sabáudia quando, por forte dor de cabeça, teve de ser socorrida e levada ao hospital. Faleceu no dia seguinte, em decorrência de um aneurisma cerebral. No outro dia, 2 de agosto, em Guarapuava, o também professor de história João Xavier faleceu de infarto. De acordo com o Colégio Cristo Rei, onde trabalhava, João tinha conseguido se aposentar há cerca de três meses. Ele tinha 64 anos.

Em Rio Bom, no dia 05, foi a vez da professora de educação infantil Rose Oliveira, também de infarto. De todos os outros, Rose era a única servidora municipal, e não estadual. Além desses, ocorreram duas outras mortes, dessa vez por suicídio. Um professor de história, em 24 de julho, e uma de sociologia, no último dia 19 de agosto.

O saldo preocupa: sete professores em 27 dias; duas mortes iniciadas em sala de aula; cinco vítimas de doenças cardiovasculares; dois de suicídio; cinco funcionários do Estado.

Saúde do professor no Brasil: o que dizem os estudos

De junho a julho do ano passado, a Associação Nova Escola realizou uma pesquisa on-line com profissionais da educação. Dos mais de cinco mil participantes, 66% já se afastaram do serviço devido a problemas de saúde.

Outro estudo, de 2012, realizado pelo Gestrado (Grupo de Estudos Sobre Política Educacional e Trabalho Docente), revela que, na educação infantil, os problemas psíquicos já estão entre os principais motivos de afastamento.

Depressão, síndrome do pânico, nervosismo e ansiedade correspondem a 14,3% dos casos. O estresse está em 11,7% deles. Ambos só perdem para inflamações respiratórias, com 17,4%.

Cerca de 8,9 mil professores participaram da pesquisa do Gestrado, que abrange sete Estados brasileiros, dentre eles, o Paraná.

Estresse, nervosismo, exaustão emocional e insônia também figuram entre os principais motivos de afastamentos apontados por outro estudo, publicado em 2017 em Cadernos de Saúde Coletiva, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Tais doenças estão, muitas vezes, associados à Síndrome de Burnout, conjunto de sintomas decorrentes do esgotamento profissional.

Além dos problemas psíquicos, o estudo, que analisou 69 artigos científicos da Biblioteca Virtual de Saúde em Psicologia entre 2003 e 2016, também apontou sintomas físicos. Destacam-se problemas nas cordas vocais, na audição e dores corporais, tais como no dorso e membros superiores.

Seis pesquisadores da UFPR (Universidade Federal do Paraná) desenvolveram um estudo que concluiu que “a prevalência de casos indicativos de distúrbios psíquicos é muito elevada entre os professores, e que há indícios de associação com diversas formas de exploração no trabalho.”

Ambiente de trabalho do professor paranaense

Mais de 1.200 professores da rede estadual de ensino participaram da pesquisa da UFPR, publicada no fim do ano passado. Ao todo, 75,27% manifestaram algum transtorno psíquico. Os sintomas estão relacionados à carga horária de trabalho e à superlotação das salas de aula.

Do total, 88% dos educadores passam 40 horas ou mais na escola por semana. Somam-se a isso dois fatores: preparação de aulas, correções de provas e trabalhos, lançamento de notas, etc.; e a dupla jornada, representada por serviços de casa e que atinge principalmente as mulheres.

No levantamento, havia em média 33 estudantes por turma. Em 52,41% dos casos, os professores trabalhavam com salas de 31 a 40 alunos, bem acima da média global. “Pesquisa reunindo 31 países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) registra que o tamanho médio de turmas é de 21 alunos nas séries iniciais e de 24 nas finais”, dizem os autores do estudo.

A esse problema, agrega-se o mau comportamento de alunos. De acordo com os pesquisadores, professores de escolas estaduais lidam com “uma população cujos direitos de cidadania são frequentemente negados”. Muitos desses jovens vivem expostos à violência e a reproduzem em sala de aula.

Atestados médicos “como punição”

Para Marcio Diniz, presidente do núcleo sindical da APP de Arapongas, muitos professores se sentem amedrontados em procurar um médico quando adoecem, além de estarem desmotivados profissionalmente.

“O funcionário de escola não têm mais uma perspectiva de carreira, por conta da retirada de direitos, como a não realização do PDE (um programa de aperfeiçoamento de professores), a não concessão de licenças especiais, a não concessão da data-base (correção salarial e de condições de trabalho), salas superlotadas e a redução da hora-atividade”, manifesta.

De acordo com Diniz, professores têm medo de ir ao médico, já que, dependendo do número de atestados que tenham ao longo do ano, podem ser prejudicados. O atestado médico serve, por exemplo, como critério de classificação para o professor pegar aula extraordinária. Quanto menos, maior a chance de classificar-se.

Muitos dos professores que faleceram e dos que se afastam por problemas de saúde eram ou são concursados. O sindicalista informa que suas vagas são ocupadas por profissionais temporários, sendo financeiramente vantajoso para o Estado.

Diniz cobra “um olhar mais humano para o ambiente escolar”. E indaga: “o que foi feito o ano passado e esse ano com essas pessoas que apresentaram o mesmo número de atestados? Procurou-se saber se elas iniciaram tratamento ou o porquê que elas tiraram atestado? Ou seja, não houve uma contrapartida do Estado, apenas levantamento de números (de atestados) a procurar uma forma de punir esses professores.”

A reportagem entrou em contato com a assessoria da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (Seed), mas não obteve resposta.

 

 

Fonte:  Danilo O’Lopes

Especial para o SITE  O LONDRINENSE

 

 

 

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