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17 jul

O SOFRIMENTO MENTAL SE AGRAVA NO PERÍODO DA PANDEMIA

Confira o artigo de Idemar Vanderlei Beki, dirigente regional do Núcleo Sindical da APP SINDICATO de União da Vitória, que integra o Coletivo de Saúde da APP Independente, e professor da rede estadual de ensino do Paraná.

Em março o Governo do Paraná publicou o decreto estadual 4.230/2020 que propõe medidas para o enfrentamento da Pandemia. Desde então, o isolamento social é a medida mais adequada para reduzir a transmissão do Novo Coronavírus. Na ocasião as aulas presenciais foram suspensas e fomos surpreendidos com um projeto de aulas online. A proposta foi efetivada sem que tivéssemos o mínimo de formação necessária e sem a consulta da comunidade escolar. Além disso, as condições materiais necessárias (equipamentos) para o ensino remoto tornaram-se responsabilidade dos docentes).

Um primeiro efeito foi a ampliação da carga horária dos professores (as) que trabalham em média 40 horas semanais. Com a implementação do ensino remoto e sua consequente burocratização, fomos obrigados a trabalhar além da nossa carga horária, com o Registro de Classe Online (RCO), além das plataformas de interação com os estudantes, como GOOGLE CLASSROOM. É importante destacar que apenas uma parte dos alunos interagem nas plataformas digitais, pois não possuem os equipamentos necessários (computadores, notebook, tablet, celulares). No aspecto das condições de acesso dos estudantes, na maioria dos casos, os celulares não têm capacidade necessária para baixar os aplicativos, aprofundando ainda mais a desigualdade socioeconômica na escola pública.

O decreto 4.230, do governador Ratinho Júnior, propõe o isolamento social e o cuidado coletivo dos cidadãos e cidadãs paranaenses. No entanto, nós educadores(as) nos encontramos num dilema: temos responsabilidade de cumprir nosso trabalho em home office, nos esforçando para fazer a devida interação com os estudantes, no momento em que mais precisamos da nossa saúde mental e física, sendo esse um fator fundamental para preservar o sistema imunológico diante da Pandemia da COVID-19?

No entanto, estamos sobrecarregados com atividades online que vão além do nosso horário de trabalho, ou seja, manhã, tarde e noite. Dessa forma, é humanamente impossível manter uma boa condição de saúde. Tal situação aumenta significativamente a ansiedade e o estresse.

Parabenizamos o Núcleo Sindical da APP SINDICATO de Londrina pela realização de uma pesquisa em parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL), sobre o trabalho remoto dos professores durante a Pandemia. O trabalho tem a preocupação com o alto índice de sofrimento mental docente e com a saúde de modo geral dos profissionais da educação que continuam atuando nas escolas, muitas vezes se expondo ao risco de contaminação.

O trabalho contou com a participação de professores(as) de todo o Estado do Paraná e 85,7% dos participantes afirmam ter a saúde afetada durante o trabalho a distância. No Núcleo Regional de Educação de Londrina – NRE Londrina, 270 professores(as) participaram da pesquisa. O período de mais de 90 dias de aulas remotas tem trazido muito sofrimento mental e sobrecarga de trabalho para os professores(as) da região de Londrina. A seguir comentamos alguns dados:

TOTAL DE PROFESSORES – 270 no NRE Londrina

  • Ansiedade e estresse – 16,4%;
  • Cobrança (diretores, pedagogos, SEED, alunos, familiares), por demandas que geram angústias, cansaço, dores – 10,2%;
  • Muito tempo em frente ao computador (cansaço audiovisual, dores corporais) – 13,3%.

Os dados acima são preocupantes, pois 16,4% dos professores apresentam quadro de ansiedade e estresse, que pode se transformar em depressão profunda, como a Síndrome do Burnout, conhecida como o esgotamento profissional dos educadores(as). Nessa situação o trabalho perde o significado e o sentido, devido à exaustão emocional. Ou seja, o trabalho, em vez de ser fonte de realização e prazer, torna-se fonte de sofrimento extremo, incapacitando temporariamente o educador(a), gerando afastamento de suas atividades para o tratamento da Síndrome.

Outro dado que chama a atenção é cobrança sistemática, pela Secretaria Estadual de Educação (SEED), para que se cumpram demandas burocráticas  esvaziadas de significado que não geram, portanto, nenhum tipo de satisfação.

Além disso, são recorrentes as reclamações com a imposição de um ritmo de trabalho intensificado. Virou regra na vida dos professores o preenchimento de tabelas, planilhas, relatórios e o excesso de atividades para os discentes.

Outra queixa constante dos entrevistados é o período intenso de exposição em frente ao computador, ficando expostos e sentados pela manhã, tarde e noite.

No momento que o governo do Estado começa a discutir protocolos para a volta das aulas presenciais, algo que pode ocorrer em setembro em todo estado do Paraná, dependendo da evolução da Pandemia no país e no estado, esta matéria serve de alerta.

Os dados estatísticos levantados pelo Núcleo Sindical de Londrina apontam para a piora no mal estar docente. O excesso de trabalho sem o devido estímulo e satisfação pelo trabalho realizado nesse período difícil de confinamento social pode comprometer o processo de volta as aulas, no qual os estudantes precisam ter todo apoio e carinho dos seus educadores(as) para poderem superar o ano de 2020.

Referências bibliográficas:

TOSTES, Maiza Vaz; ALBUQUERQUE, Guilherme Souza Cavalcanti de; SILVA, Marcelo José de Souza e; PETTERLE, Ricardo Rasmussen. Sofrimento mental de professores do ensino público. Revista Saúde Debate. Rio de Janeiro, V. 42, Nº. 116, p. 87-99, JAN-MAR. 2018. Inserido em: https://doi.org/10.1590/0103-1104201811607. Acesso em 03 jun. 2020.

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