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13 fev

AVALIAR O QUÊ? AVALIAR QUEM? AVALIAR PARA QUÊ? AVALIAR PARA QUEM?

Por Sebastião Santarosa (Campo Largo), Professor Ruy Barbosa (Colombo) e Cyrillo Oliveira Junior (São José dos Pinhais)

 

 

Após oito anos de ataque a direitos, de autoritarismo e de perseguição política vivenciados durante o governo de Beto Richa, parece natural que muitos educadores do estado do Paraná cultivem esperanças de melhorias em suas condições de trabalho no governo de Ratinho Junior, recém iniciado. Como educadores, temos plena consciência da importância de não deixar que a esperança seja perdida no exercício de nossa prática profissional, pois é ela, a esperança, que nos anima no árduo trabalho cotidiano voltado para construção de um mundo possível. A esperança, entretanto, não pode dar lugar a ilusão veiculada por estilos sedutores de retóricas bem encadeadas.

Durante esses dias de formação vivenciados nas escolas, espanta-nos o otimismo demonstrado por direções e equipes pedagógicas em torno de uma suposta expertise administrativa do novo secretário de educação. Na verdade, pouco o conhecemos e não é nosso objetivo, jamais, avaliá-lo individualmente como pessoa ou como profissional. O grande problema que deve nos deixar muito atentos e com as barbas-de-molho é o modelo de gestão educacional que parece estar sendo implantado em nosso estado. A ênfase atribuída aos indicadores apresentados no IDEB e SAEP, a análise do desempenho por escolas e a avaliação voltada exclusivamente para os professores, são fortes indícios de que a gestão da educação paranaense será de caráter eminentemente empresarial.

A racionalidade da gestão empresarial, diferentemente da gestão de projetos educativos, tem como objetivo a maximização dos lucros mediante a redução de despesas. Além do uso de tecnologias cada vez mais sofisticadas no processo produtivo, há uma seleção cada vez mais rigorosa de mão-de-obra qualificada, da qual exige-se dedicação integral aos objetivos empresariais. As vidas das pessoas passam a ter importância apenas na medida em que contribuam para que os objetivos, ou seja, a lucratividade da empresa, sejam atingidos.

Quando se fala em avaliação no âmbito empresarial, pensa-se na verificação e na mensuração da eficiência produtiva da tecnologia usada e das pessoas empregadas. Após verificadas e medidas, aquelas que não sejam suficientemente produtivas, tanto as máquinas quanto as pessoas, são descartadas e eliminadas. O mais importante da gestão empresarial eficiente é a chamada qualidade total. É essa qualidade, em síntese, que garantirá a empresa espaço na feroz concorrência do mercado de consumo.

Oras, estar atento aos indicadores avaliativos das escolas por si só, em princípio, não seria algo ruim. Como classe trabalhadora, é de fato nosso desejo a construção de uma escola pública de qualidade. A questão emergente que precisa ser problematizada diz respeito a qual espécie de qualidade estamos falando. Não pode ser, obviamente, a de viés empresarial.

Em um projeto de educação verdadeiramente humanizador, que promova o desenvolvimento humano através do ensino e da aprendizagem, os estudantes e os educadores não podem ser objetivados e reduzidos a produto mudo a ser formatado, medido e pesado em uma avaliação para ser classificado, selecionado e rotulado. Muito pelo contrário, tanto estudantes como educadores precisam ser compreendidos como sujeitos em sua complexa dimensão existencial, que envolve a história, a cultura, as formas de socialização e de individualização. Sujeitos nunca completos, se fazendo e se refazendo nas permanentes relações que estabelecem com o mundo e com os outros sujeitos. E nesse movimento incessante de vir a ser, os conhecimentos (ou conteúdos escolares) também devem ser compreendidos em sua natureza cambiante, eminentemente dialéticos, construídos e reconstruídos a todo momento em diferentes contextos de interação social. E é nessa intrincada trama criativa, envolvendo homens e mundos, que reside a espantosa riqueza da vida que temos para viver.

A suspeita que levantamos é a de que a Secretaria de Educação irá exigir das escolas o aumento do desempenho do IDEB e do SAEP para estabelecer ranqueamento entre elas. Como consequência direta, as direções e equipes pedagógicas começarão a exigir dos professores o treinamento de crianças e de adolescentes para resolver questões dessas provas, incluindo em seus planejamentos os chamados “descritores de aprendizagem” como se fossem eles conteúdos de aprendizagem. Não poderemos julgar como erradas as direções e equipes pedagógicas que agirem dessa forma se o objetivo do ranqueamento for a implantação de mecanismos de meritocracia, ou seja, de premiação aos educadores das escolas que obtiverem os melhores resultados nessas provas.

Devemos observar que nos debates e nas leituras realizadas nas escolas, a avaliação do desempenho escolar parece centralizar-se exclusiva e individualmente nos professores. Não há espaços para reflexão sobre as políticas públicas vigentes, sobre o contexto social em que se insere a escola e sobre as condições efetivas de trabalho dos professores. Essa redução de olhar ao lado da ênfase no desempenho das avaliações oficiais, leva a crer inequivocamente que será implantado de fato sistema de meritocracia, no qual os professores cujos alunos não conseguirem atingir as metas de aprendizagem estabelecidas serão culpabilizados e punidos, provavelmente descartados e eliminados.

A culpa pelo fracasso recairá sobre o professor e não sobre o sistema do qual ele acaba sendo também uma vítima. De forma perversa, esse sistema despertará o espírito de competitividade destrutiva entre professores e entre estudantes, eliminado do ambiente escolar relações de solidariedade, reflexões éticas, produções artísticas e práticas políticas que não caem na prova.
É preciso, mais do que nunca, a atenção dos educadores do Paraná. É preciso dizer para o novo secretário, com firmeza, que a nossa escola pública conta com muitos e muitos professores dedicados e qualificados. É preciso fazê-lo entender que a nossa escola não é tão ruim como ele imagina. Ele precisa saber que há trabalhos maravilhosos desenvolvidos no cotidiano de nossas escolas, quase sempre invisibilizados por um discurso cretino de que a escola pública é deficiente. É preciso deixar claro, caso essa dúvida exista realmente, que não adianta estabelecer competição entre professores, colocando uma faca no pescoço deles e ameaçando-os com a demissão para que assim se tornem mais eficientes. É preciso entender que ao lidar com a escola não se está lidando com uma fábrica de produtos alimentícios como aquelas em que se coloca tomates de um lado de uma máquina e sai massa-de-tomate do outro.

Todos sonhamos com uma escola pública de qualidade. Sonhamos com uma escola pública que não seja depósito de filhos de pobres, destinados a ocupar as piores vagas no mercado de trabalho. Sonhamos com uma escola que ofereça a nossas crianças e a nossos jovens a possibilidade de uma formação integral, técnica, científica, filosófica, artística, ética e política. Para isso, precisamos de investimento efetivo. Precisamos de dinheiro! Precisamos de professores bem remunerados e com boas condições de trabalho, envolvidos em projetos de formação permanente, motivados pelo reconhecimento profissional e guiados pela esperança efetiva de poder contribuir para construção de um mundo mais justo, mais humano, mais bonito. O resto é exercício retórico.

Professores Sebastião Santarosa (Campo Largo) – Professor Ruy Barbosa (Colombo) – Professor Cyrillo Oliveira Junior (São José dos Pinhais)
Integrantes da APP Independente – Grupo de oposição à atual direção da APP Sindicato.

 

 

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